“Cada um vê aquilo
que sabe”
Ninguém ignora que um bom
impressor quando encontra um livro novo observa a capa e contracapa, abre-o
acompanhando a folha com a mão, observa os caracteres tipográficos, como estão
dispostos e de que tipos são e se são originais ou de uma fundição secundária,
observa e critica o papel, a encadernação, vê se a lombada do livro é redonda
ou quadrada, como começa o texto (a altura), como são as margens, como são os
parágrafos, como está disposta a numeração e muitas outras coisas. Um leitor
que nada saiba de imprensa lê o título e o preço, compra e depois lê o livro,
mas se lhe perguntais que tipo de letra tem o título não sabe dizê-lo, não lhe
interessa. No seu mundo privado de imagens não existem pontos de contacto com
estas coisas que não conhece; ele nem sequer viu de que tipo de caractere
tipográfico se tratava.
Conhecer as imagens que nos
rodeiam significa também alargar as possibilidades de contacto com a realidade;
significa ver mais e perceber mais. É muito interessante, por exemplo, ver as
estruturas das coisas, mesmo na parte que está à superfície, aquilo a que se
chama “textura”, isto é, a sensibilização (natural ou artificial) de uma
superfície, mediante sinais que não alterem a uniformidade. Uma folha de papel
branco apresenta uma superfície pouco interessante se é lisa, mais interessante
se é rugosa, ainda mais interessante se as rugosidades têm um andamento
estrutural reconhecível como, por exemplo, os poros da pele que dão, como
comunicação visual, a ideia da pele. Pense-se nas peles dos animais, das
lagartixas ao crocodilo, pensa-se na casca das árvores, na parede rebocada, no
cimento martelado. Cada coisa que o olho vê tem uma estrutura de superfície
própria e cada tipo de sinal, de granulosidade, de filamento, tem um
significado bem claro (tanto assim é que se víssemos um copo com uma superfície
de pele de crocodilo não parecia normal).
Bruno Munari, Design
e Comunicação Visual, p. 10-20.